
A clínica com adolescentes
Tadeu Roberto de Abreu
Cada vez maior o número de jovens que apresentam
sofrimento psíquico / problemas de ajustamento e que nos
procuram em busca de ajuda:
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Questionamento vocacional;
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Problema com autoridades;
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Uso e abuso de drogas;
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Abuso sexual;
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Sexualidade indiscriminada;
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Comportamento de risco;
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Impulsividade;
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“Más” companhias e grupos de risco;
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Comportamento antissocial;
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Problemas com auto imagem e imagem corporal;
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Depressão;
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Tentativa de suicídio;
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Angústia;
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Fobias;
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Persecutoriedade;
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Psicoses;
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Introspecção excessiva;
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Regressão infantil.
A demanda por tratamento pode ser indireta (ou seja, chegam através da preocupação dos pais ou professores), mas aderem fielmente à proposta. Apesar das controvérsias no meio psicanalítico quanto a possibilidade de análise e necessidades de adaptações da técnica, eles obtêm enormes benefícios de uma boa relação terapêutica.
A adolescência é um período crítico, de reestruturação edípica, socialmente perigoso e, como é óbvio, de formação de personalidade que merece especial atenção dos responsáveis. Período transitório entre um corpo e outro, entre antigos amigos, namorada(o), identidade sexual, hobbies, incertezas quanto ao futuro e mudanças cognitivas que geram inquietudes e angústias. Para alguns transtornos mentais, como é o caso da esquizofrenia, a adolescência é sua fase de manifestação.
Particularmente, no início de carreira, não admitia adolescentes para psicoterapia por acreditar nas ideologias que me foram passadas na formação quanto à transitoriedade da fase de desenvolvimento e da dificuldade em formar um vínculo terapêutico. O fato de não apresentarem demanda espontânea para terapia talvez me assustava quanto a me sentir um intruso na história e a possibilidade do fracasso terapêutico quando estamos em início de carreira tem um peso para o jovem terapeuta. Felizmente, cedo descobri que a falta de uma estrutura fixa não impossibilitava a análise do material inconsciente e nem o estabelecimento da transferência. Os adolescentes são bastante permeáveis ao diálogo terapêutico, críticos e motivados para a reflexão, formam um bom vínculo e, no final, acaba sendo um prazer trabalhar com eles. O analista apenas precisa resistir ao "convite" para atuar em um papel de mentor ou juiz das relações externas e internas do paciente. Ocupar o lugar de amigo também colocaria a psicoterapia em risco, visto que é comum os convites para festas de aniversário, para ir em shows da banda ou para assistir a apresentação que fará no teatro.
Geralmente quem detecta os problemas são os pais ou professores e o pedido destes é, na maioria dos casos, para colocar um “limite” ou para descobrir a natureza dos pensamentos que subjazem os comportamentos estranhos que apresentam. Há, por isso, enorme desconfiança dos pacientes quanto a este profissional que está sendo contratado por seus pais. Nesse sentido, a integridade do profissional fará total diferença na adesão ao tratamento. O contrato sobre o funcionamento das sessões deve ser firme e claro quanto aos papéis de cada um no processo. Precisa ficar muito claro que o sigilo precisará ser quebrado em caso de hetero e auto agressão, comportamento de risco ou tentativa de suicídio. Manter essa coerência é fundamental para não quebrar o vínculo de confiança e para trabalhar com limites.
Uma psicoterapia apresenta-se de fundamental importância para repensar velhos padrões de pensamento / comportamento, inscrevendo uma diferenciação na compulsão à repetição, reforçando a estrutura de personalidade e equipando-os para resolver seus conflitos da vida cotidiana para aprender com a experiência.
