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A clínica com crianças

Tadeu Roberto de Abreu

       A clínica com crianças tem algumas particularidades, como, por exemplo, a comunicação ser basicamente não verbal, a técnica ser lúdica e o sintoma ser perpassado quase diretamente pela subjetividade dos pais, mas aliviá-la de seus sofrimentos e analisar seu mundo interno, prevenindo o desenvolvimento de neuroses, psicoses, perversões e psicopatias, justifica em larga escala a indicação da psicoterapia para diferentes queixas:

  1. separação dos pais;

  2. morte de ente querido;

  3. nascimento de irmãos;

  4. insônia;

  5. doenças psicossomáticas;

  6. falta de motivação, tristeza;

  7. encoprese e enurese (cocô e xixi sem controle);

  8. tiques, ansiedade e angústia;

  9. anorexia (dificuldade para comer) / obesidade;

  10. medos (da escola, das pessoas, de animais, etc);

  11. pesadelos, terror noturno e convulsões;

  12. insegurança e/ou timidez;

  13. dislexia;

  14. mentiras, agressividade e destruição;

  15. delinquência;

  16. sexualidade (masturbação, puberdade precoce, transexualidade, etc);

  17. obsessividade e manias;

  18. surtos e psicose;

  19. transtornos invasivos do desenvolvimento;

  20. abuso sexual.

 

         Diante do setting terapêutico e a possibilidade de comunicar seus conflitos, medos e fantasias, é impressionante como a criança rapidamente adere a proposta de tratamento, faz associações livres e, logo nas primeiras entrevistas, pode obter grandes benefícios do espaço terapêutico. As primeiras entrevistas são de suma importância para escutar o inconsciente infantil e para o estabelecimento de um vínculo de confiança entre paciente e terapeuta que, no caso, envolve também os pais que a trazem para o tratamento e são parte fundamental.

           Geralmente, diante da queixa dos pais, o psicólogo marca uma hora para observação lúdica da criança e outras horas para aplicação de testes e entrevistas subsequentes com os pais. É oferecido o material lúdico e gráfico na sala de atendimento e explicado a criança minimamente o que faz um psicólogo.

         Parte do contrato entre paciente e terapeuta envolve a questão do sigilo e da conservação da sala. Esses limites não somente vão servir de balizas para analisar a estruturação egóica e a capacidade de controle dos impulsos e de reparação, mas também ajudarão a criar um vínculo terapêutico e de confiança. O sigilo em relação às comunicações da criança ao terapeuta é relativo, sendo quebrado somente em caso de risco de vida, ameaça à saúde/integridade física ou possibilidade de destruição de propriedade privada. Do contrário, compete ao terapeuta traduzir aos pais às comunicações da criança em termos de sofrimento psíquico, traumas, medos e momento evolutivo com o objetivo de uma maior compreensão da dinâmica deles em relação à criança e vice-versa. Desta maneira, a criança percebe que existe um ambiente em que pode confiar para levar seus conteúdos, abordar determinados temas tabus e expressar suas angústias para elaborá-las através das perguntas e respostas que vão sendo construídas junto de um ambiente continente.

Indicação de livro: Nemiroff, M.A. O primeiro livro da criança sobre psicoterapia. Trad. Maria Adriana Veronese. Artes Médicas; Porto Alegre, 1995.

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