
A clínica com crianças
Tadeu Roberto de Abreu
A clínica com crianças tem algumas particularidades, como, por exemplo, a comunicação ser basicamente não verbal, a técnica ser lúdica e o sintoma ser perpassado quase diretamente pela subjetividade dos pais, mas aliviá-la de seus sofrimentos e analisar seu mundo interno, prevenindo o desenvolvimento de neuroses, psicoses, perversões e psicopatias, justifica em larga escala a indicação da psicoterapia para diferentes queixas:
-
separação dos pais;
-
morte de ente querido;
-
nascimento de irmãos;
-
insônia;
-
doenças psicossomáticas;
-
falta de motivação, tristeza;
-
encoprese e enurese (cocô e xixi sem controle);
-
tiques, ansiedade e angústia;
-
anorexia (dificuldade para comer) / obesidade;
-
medos (da escola, das pessoas, de animais, etc);
-
pesadelos, terror noturno e convulsões;
-
insegurança e/ou timidez;
-
dislexia;
-
mentiras, agressividade e destruição;
-
delinquência;
-
sexualidade (masturbação, puberdade precoce, transexualidade, etc);
-
obsessividade e manias;
-
surtos e psicose;
-
transtornos invasivos do desenvolvimento;
-
abuso sexual.
Diante do setting terapêutico e a possibilidade de comunicar seus conflitos, medos e fantasias, é impressionante como a criança rapidamente adere a proposta de tratamento, faz associações livres e, logo nas primeiras entrevistas, pode obter grandes benefícios do espaço terapêutico. As primeiras entrevistas são de suma importância para escutar o inconsciente infantil e para o estabelecimento de um vínculo de confiança entre paciente e terapeuta que, no caso, envolve também os pais que a trazem para o tratamento e são parte fundamental.
Geralmente, diante da queixa dos pais, o psicólogo marca uma hora para observação lúdica da criança e outras horas para aplicação de testes e entrevistas subsequentes com os pais. É oferecido o material lúdico e gráfico na sala de atendimento e explicado a criança minimamente o que faz um psicólogo.
Parte do contrato entre paciente e terapeuta envolve a questão do sigilo e da conservação da sala. Esses limites não somente vão servir de balizas para analisar a estruturação egóica e a capacidade de controle dos impulsos e de reparação, mas também ajudarão a criar um vínculo terapêutico e de confiança. O sigilo em relação às comunicações da criança ao terapeuta é relativo, sendo quebrado somente em caso de risco de vida, ameaça à saúde/integridade física ou possibilidade de destruição de propriedade privada. Do contrário, compete ao terapeuta traduzir aos pais às comunicações da criança em termos de sofrimento psíquico, traumas, medos e momento evolutivo com o objetivo de uma maior compreensão da dinâmica deles em relação à criança e vice-versa. Desta maneira, a criança percebe que existe um ambiente em que pode confiar para levar seus conteúdos, abordar determinados temas tabus e expressar suas angústias para elaborá-las através das perguntas e respostas que vão sendo construídas junto de um ambiente continente.
Indicação de livro: Nemiroff, M.A. O primeiro livro da criança sobre psicoterapia. Trad. Maria Adriana Veronese. Artes Médicas; Porto Alegre, 1995.