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A clínica com adultos

Tadeu Roberto de Abreu

A mente e o cérebro são de fundamental importância para nossa vida. Podemos dizer que a saúde mental é muito mais importante para a sobrevivência na vida prática do que outro órgão, como o coração ou a garganta. Somente para pensarmos em um exemplo, a Depressão é uma das doenças mais incapacitantes e figura entre as principais causas de afastamento do trabalho, segundo informações do Ministério da Previdência Social. 

 

Por outro lado, percebemos que as pessoas não tem dificuldade para agendar um cardiologista quando diante de uma arritmia e não medem esforços em um Pronto Socorro

para procurar um clínico geral quando estão com uma infecção na garganta. Contudo, para cuidar da saúde do cérebro e da mente não vemos que exista a mesma facilidade para procurar por psicólogos, psicanalistas e psiquiatras.

Existe uma barreira para pensar na possibilidade de um desajustamento mental/emocional e vivemos como se esta parte de nosso corpo não precisasse de cuidados profissionais. É como se apenas o passar do tempo e uma conversa aqui e ali resolvessem traumas de infância, problema de relacionamento com os pais / familiares, compulsões, pensamentos destrutivos, somatizações, depressão e transtorno bipolar, ansiedades insconscientes, desajustamentos esquizoafetivos, sadismos superegóicos e outros transtornos mentais e de personalidade.

 

Sabemos que a mente humana é bem complexa e o desenvolvimento emocional não é inato ou uma questão de escolha consciente. Ele depende de uma série de fatores que vão dos hereditários aos psicossociais.

Essa menor valorização da saúde mental é um grande erro na nossa sociedade ocidental tendo em vista a sua importância no controle dos impulsos, para um adequado julgamento da realidade (interna e externa) e para termos sensibilidade para captar as nuances das relações, seja em uma empresa, um órgão público ou em família. Um Transtorno Mental no ambiente de trabalho geralmente é estigmatizado e taxado por adjetivos negativos ligados a volição. Pode fazer com que a pessoa acabe se atrasando ou faltando mais, não conseguindo produzir e não se sentindo competente para realizar determinadas atividades, mas na maioria das vezes, sem um diagnóstico adequado, é taxada como alguém incapaz ou preguiçoso, dificultando ainda mais sua adequação na equipe e suas possibilidades de continuar no trabalho. A própria pessoa é flagrada fazendo julgamento negativo sobre si mesma sem relacionar sua dificuldade com alguma questão inconsciente e psicológica. Mesmo diante de um quadro pronunciado, temos a maior dificuldade em pensar que precisamos iniciar uma psicoterapia. Mas caso fosse um ortopedista?

A Associação Americana de Psiquiatria lançou em 2014 a quinta edição do DSM (Diagnostic Statistic Manual) que reúne uma vasta nosografia das possibilidades de adoecimento na área da saúde mental. Existe uma boa discussão na literatura e no meio profissional dos psicólogos e psicanalistas quanto a utilidade da utilização dessa classificação. Resumidamente, os pontos a favor julgam que seja importante uma uniformização na linguagem para facilitar a comunicação na equipe e entre profissionais. O CID-10 utiliza uma numeração para isso. Pensando contrariamente, muitos pensam ser um modo reducionista de tratar um transtorno, estigmatizante e sem utilidade a nomenclatura para a relação e vínculo terapêutico.

 

Mas vejamos alguns exemplos:

  • Espectro da Esquizofrenia e Outros Transtornos Psicóticos;

  • Transtorno Bipolar e Transtornos Relacionados;

  • Transtornos Depressivos;

  • Transtornos de Ansiedade;

  • Transtorno Obsessivo-compulsivo e Transtornos Relacionados;

  • Transtornos Relacionados a Trauma e a Estressores;

  • Transtornos Dissociativos;

  • Transtorno de Sintomas Somáticos e Transtornos Relacionados;

  • Transtornos Alimentares;

  • Transtornos da Eliminação;

  • Transtornos do Sono-Vigília;

  • Disfunções Sexuais;

  • Disforia de Gênero;

  • Transtornos Disruptivos, do Controle de Impulsos e da Conduta;

  • Transtornos Relacionados a Substâncias e Transtornos Aditivos;

  • Transtornos Neurocognitivos;

  • Transtornos da Personalidade;

  • Transtornos Parafílicos;

  • Outros Transtornos Mentais;

  • Transtornos do Movimento Induzidos por Medicamentos e Outros Efeitos Adversos de Medicamentos;

  • Outras Condições que Podem ser Foco da Atenção Clínica.

 

Além da menor valorização, na verdade parece existir um grande preconceito e mesmo um tabu em torno da necessidade de buscar por um profissional da área da saúde mental (psicólogo, psicanalista ou psiquiatra). Parece que a forma como a doença mental e o sofrimento psíquico foram tratados no passado (modelo asilar) influenciaram de maneira definitiva um tipo de estereótipo generalizado. A grosso modo, quem menciona que está passando por um psiquiatra ou psicólogo logo é associado com os seguintes termos: “louco”, “doido” ou “maluco”. Mas esse estereótipo não deveria bloquear a capacidade das pessoas pensarem em seu benefício próprio e julgarem a verdadeira importância da busca por equilíbrio mental para uma prospecção de carreira, aumento de ganhos financeiros e para manter uma família funcionando.  

Mas como funciona a psicoterapia com adultos? É possível ao psicólogo atender amigos e parentes? E por que guarda segredo das comunicações do paciente?

A psicoterapia remonta a tempos antigos. Apesar de hoje a tecnologia ter tomado o lugar da personalidade do médico influenciando sobre a cura do paciente, desde a antiguidade empregava-se meios psíquicos para alterar o estado emocional e, consequentemente, as enfermidades corporais.

Está consolidado que a psicoterapia, seja ela individual ou em grupo, é uma ferramenta imprescindível para tratar de pessoas que passam por dificuldades emocionais, problemas de relacionamento social e transtornos mentais (Leichsenring e Rabung, 2008).

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- American Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders - DSM-5. 5th.ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013.​

- Leichsenring F, Rabung S. Effectiveness of long-term psychodynamic psychotherapy: a meta-analysis. JAMA. 2008;300(13):1551-65

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